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Como nasceu a Comunidade Canção Nova – Monsenhor Jonas Abib

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Nunca pretendi “fundar” ou ser “fundador”. De certa maneira, essa idéia até me repugnava. Simplesmente fui sendo dócil à condução de Deus, que, hoje foi “vigorosa”.

Deus me puxou e me empurrou muitas e muitas vezes. Penso que fui sempre muito “respeitado” em minha liberdade, mas que Deus andava com passos firmes à minha frente. Ela abria caminhos que eu não imaginava e pelos quais me via entrando. Dizendo hoje que a Canção Nova é uma “fundação”, afirmo que “foi Deus quem a fundou”: Ele tinha desígnios a respeito dela; Ele a plantou, a fez crescer, a direcionou, podou, ampliou, a fez produzir frutos, a fez sinal, ponto de atração… Foi Ele, sempre Ele, tudo Ele, quem fez.

Devo admitir que fui colocado na “origem” de tudo, na base… Só assim posso admitir que sou “fundador”. Deus me pôs na origem, na raiz, no coração, no fundamento. Ele me fez fundador.

Olhando minha história, que é a da Canção Nova, me vejo como um menino que a muito custo consegue acompanhar as passadas do Pai. Menino que não entende quase nada do que está fazendo e para onde está indo, mas vai. Vai porque confia. Olhando a história, vejo que me desviei, escorreguei, caí, voltei, corri na frente, me atrasei… Mas sempre havia uma mão forte de Pai, e o caminho ia sendo feito.

Acompanhou-me uma intuição de que eu não era feito para ser sozinho; de que eu-era-com-outros.

Pessoas vieram e pessoas se foram; muitas quiseram viver e trabalhar comigo… passaram pela minha vida. Agradeço a Deus porque as pôs em meu caminho. Agradeço a elas porque todas tiveram sua parte importante, muitas marcaram minha vida, minha caminhada. Mas… não eram ainda as pessoas com quem, nos desígnios de Deus, eu deveria permanentemente com + viver e co + laborar.

Vários fatos prepararam o “nascimento da Comunidade Canção Nova”. Mas defino como momento do “nascimento” o dia em que Dom Antônio, bispo de Lorena (SP) na época, me chamou ao seu escritório. Ele estava com o livro da “Evangelli Nuntiandi: Evangelização no Mundo Contemporâneo”. Então começou a me falar sobre esse documento, que fora publicado pelo Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1975.

Em 1974 houve o sínodo. Depois o Pontífice preparou o texto e o mandou para todos os bispos. Dom Antônio o tinha acabado de ler. Estava muito impressionado. Ele me disse: “Padre Jonas, o que o Papa fala aqui é totalmente verdade. É preciso evangelizar, a hora é de evangelizar”.

Eu via Dom Antônio realmente tocado e inspirado. Ele pegou um artigo, que já havia reservado, e o leu para mim:

“Verifica-se que as condições do mundo atual tornam cada vez mais urgente o ensino catequético, sob a forma de um catecumenato, para numerosos jovens e adultos que, tocados pela graça, descobrem pouco a pouco o rosto de Cristo e experimentam a necessidade de a Ele se entregar” (EM 44)

Dom Antônio me disse: “Já que você trabalha com jovens, é mais fácil fazer isso com eles. Comece alguma coisa. Há muito para se fazer. Mas temos de começar por alguma coisa. Então comece por isto”.

Cada vez que volto a esse artigo, fico admirado como isso aconteceu ao pé da letra. Eu disse para Dom Antônio que via em suas palavras uma inspiração; e ainda: “Não sei o que fazer. Vou rezar e lhe trago uma resposta”.

Parei e rezei. Em seguida, voltei a ele com um esquema. Como ele havia citado para mim a palavra “Catecumenato”, dei esse nome ao curso que preparamos. Era realmente um curso de catequese; não de catecismo de primeira comunhão, mas um curso de catequese para jovens.

O documento do Papa Paulo VI foi publicado em 8 de dezembro de 1975. Não me lembro bem se Dom Antônio teve aquela conversa comigo no final de 1975 ou no começo de 1976. Graças a Deus, na Semana Santa estávamos começando o que chamamos de “Catecumenato”. Foi muito bonito. Ocupamos toda a Quinta-feira Santa, a Sexta-Feira e também o Sábado Santo com palestras. O salão do Instituto Salesiano ficou cheio. À noite fizemos a vigília pascal.

Saímos do colégio São Joaquim e fomos em procissão até o colégio Santa Tereza, onde aconteceu a vigília durante toda a noite. Foi assim que inauguramos o “Catecumenato”. Durante os anos de 1976 e 1977 houve catecumenato. Os pais, vendo a transformação dos próprios filhos, também quiseram participar. Adultos também foram entrando. Aconteceu ao pé da letra:

“… tocados pela graça, descobrem pouco a pouco o rosto de Cristo e experimentam a necessidade de a Ele se entregar” (EM 44).

Chegou um momento em que pensei: Tenho de lançar um desafio. Íamos ter um “catecumenato” interno, de um fim de semana inteiro, em Queluz (SP). Viajava de trem de Lorena (SP) a Queluz (SP). No trajeto senti forte esse desafio, mas para mim era absurdo fazê-lo: Quem iria deixar sua família, sua casa e seus estudos para morar junto comigo em comunidade? Quem iria dedicar-se ao trabalho que estávamos começando a fazer? Era tão absurdo que pensei: “Vou lançar o desafio. Não irão aceitar. Se aceitarem, é sinal de que o Senhor quer isso mesmo”.

Quando cheguei a Queluz, fiz o desafio, e uma grande quantidade de jovens aceitou, o que significa que realmente já estavam experimentando a necessidade de se entregar àquele Cristo que começavam a descobrir. Na prática, na hora de deixar a família, de parar com os estudos, com o trabalho, com o namoro, nem todos aqueles, que tinham aceitado, puderam cumprir o compromisso. Mas nós começamos: éramos exatamente doze!

No dia 2 de fevereiro de 1978, estávamos dando início à Comunidade Canção Nova com nosso primeiro compromisso. A artéria já tinha saído do coração de Deus.

Muitos fatos nos preparam para dar esse passo. Nós já tínhamos encontros no colégio São Joaquim, ou onde podíamos. Pedíamos a Deus que nos desse uma casa. Já tínhamos passado pela casa na cidade de Areias (SP), já tínhamos construído a casa de Queluz (SP); a própria Associação Canção Nova já existia. Mas a artéria mesmo nasceu naquele 2 de fevereiro.

Monsenhor Jonas Abib

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